segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Memórias

O tempo atenuou as feridas do impacto da tua morte. Gostava eu de ter amnésia para esquecer o que não quero lembrar. Memórias só quero ter tuas, dos nossos momentos, da tua alegria. Não da tua morte. Mas por algum tempo era apenas o que me conseguia lembrar, uma e outra vez mais, como tortura. Sempre que pensava em ti era isso que me lembrava.
No silêncio imaginava-te aqui outra vez, animado como sempre eras, com essa alegria contagiante. Por momentos apaziguava o coração, acalmava a mente. Mas depois voltavam os longos suspiros, silenciosas lágrimas, procurando algum alento nas memórias dos sorrisos, do riso, dos bons momentos contigo.
Estive no fundo, bem lá no fundo. Pensei que não conseguisse voltar à minha vida normal, que não conseguisse parar de me lembrar da tua ausência e que isso fosse mais forte de tudo na minha vida.
Depois fui recuperando, passei a habituar-me a não estares aqui. Parecia que estavas numa longa viagem à volta do mundo. Ah… como gostavas de viajar, de conhecer novos lugares… planeávamos as nossas futuras viagens, quando fosse mais velha. Fazias-me imaginar, soltar a minha criatividade, ter ideia que podemos ir para todo o lado se existir mesmo intenção de o fazer, porque mesmo que haja algum obstáculo, encontra-se uma solução. Improvisa-se. Vive-se.
Foste uma inspiração para mim, um exemplo de como poderia viver no futuro, as mil e uma coisas que poderia fazer, o quanto me podia divertir, desafiando-me a mim própria.
Sozinha chorei, recordei, refleti. Chorei outra vez e uma vez mais. Desacreditei que poderia esquecer o que aconteceu, não sabia como reagir, o que dizer nem o que fazer. Algumas vezes, pus um sorriso na cara. Era falso, uma máscara para não explicar o que sentia. Eu própria não sabia bem, aliás evitar falar desse assunto era o melhor. Não falar para tentar esquecer por algum tempo, para não encarar a realidade e desabar em frente às pessoas. Sempre preferi resguardar-me, evitar choros e lamechices em público. Pensava que ao ser emocional, mostrava o meu lado mais frágil e ficava mais suscetível a que me magoassem.
Depois de tudo o que aconteceu, aprendi, cresci, passei a dar importância a coisas que nunca tinha dado, a mostrar mais os meus sentimentos.
Onde quer que estejas, gostava que me visses e tivesses orgulho em mim. Gostava de o ouvir, mas já que não é possível, prefiro acreditar que continuas por aí, que não me deixaste, que mesmo longe e sem contacto contigo, posso agarrar-me à ideia que não estando presente fisicamente, continuas presente na minha vida.
Assim, posso seguir o meu caminho, mas sei que para onde quer que vá, tu em silêncio vais lá estar.

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