Bem... sei que todos já devem estar um pouco fartos de ouvir falar em terrorismo e todos os comentários e "tertúlias" televisivas sobre o assunto, mas de facto, este tema é interessante e muito atual. Mas mais importante que isso, é refletir sobre os crescentes problemas que têm surgido e surgirão nos próximos tempos até que se consiga resolver isto (se é que se vai conseguir resolver). Os casos são mais que muitos: o massacre do Charlie Hebdo no ano passado, o atentado em Paris e agora em Bruxelas, já para não falar nos atentados que ocorreram nos últimos anos.
É necessário também, pensar no conceito de liberdade de expressão que está intimamente relacionado com estas situações. Deixo aqui então, um artigo de opinião que escrevi sobre este assunto.
Atualmente
muito se fala em liberdade, nomeadamente liberdade de expressão, tanto é que
muitos acham que podem dizer tudo o que pensam, mesmo não respeitando as
diferentes crenças e opiniões que outros têm.
Porquê falar agora deste tema?
Porque há factos relativamente recentes que o justificam, por exemplo o
conflito que ocorreu no dia 7 de Janeiro de 2015, entre jornalistas do jornal
satírico Charlie Hebdo e alguns terroristas islâmicos. Estes últimos agiram a
pretexto de vingar o profeta Maomé, alvo frequente das publicações deste
jornal.
Apesar das muitas manifestações
de repúdio ao ato terrorista, o atentado também acabou por provocar uma
polémica sobre liberdade de expressão. Para alguns, ela deve ser geral e
irrestrita, pois, se houver limites, não existirá liberdade de facto. Outras,
como eu, consideram que há temas como a religião que devem ser preservadas,
pois o direito de se expressar livremente não inclui a possibilidade de
ofender. Além disso, a liberdade tem de coexistir com responsabilidade.
A liberdade é um bem precioso
mas tem limites e, a verdade é que a esmagadora maioria deles são impostos por
aqueles que defendem a liberdade sem limites, quando são as suas crenças e
opiniões que estão em causa.
Nesse sentido, é necessário
dizer que Charlie Hebdo não reconhecia limites para insultar os muçulmanos,
mesmo que muitos cartoons fossem
propaganda racista e alimentassem ódio aos islâmicos, que estão instalados na
Europa também. Devemos, pois, refletir sobre as contradições e assimetrias na
vida baseada nos valores que cremos serem universais.
Seguidamente, fale-se do atentados que
se seguiram: o de Paris e o de Bruxelas. O de Paris parece-me que surpreendeu
quase toda a gente, porque já se tinha passado alguns meses desde o Charlie
Hebdo, que para muitos tinha sido um caso pontual. No entanto, este foi só o início de muito que entretanto aconteceu e está para acontecer. Nos últimos
dias, mais um, quando a Europa já estava mais sossegada.
Cada vez mais se vive num clima
de insegurança e medo. A incerteza está no meio de nós. Não sabemos o que virá
a seguir. Sabemos, no fundo, que irá existir mais ataques, que a Europa está em
declínio.
Os valores humanistas estão em
causa devido aos extremistas que não respeitam opiniões, crenças e modos de
vida dos ocidentais e pior, tendem a obrigar-nos não só a compreende-los, como
a fazer-nos seguir as suas ideias, independentemente da história, cultura e
religião que temos há imensos séculos.
Portanto, a questão que se prende
é: “devemos nós, europeus, continuar com a mesma solidariedade que nos
carateriza, promovendo a estabilidade e o bem-estar social?” A resposta a esta
pergunta é, de facto, complexa. Não existir tanta solidariedade, livre
circulação de pessoas e bens, estar-se-ia a ir contra os valores patentes cá desde,
principalmente, o início da União Europeia. Se deixasse de existir livre
circulação, também nós seríamos prejudicados. Mas o que todos temos de
concordar, é que assim também não podemos continuar. Existem falhas de
segurança e políticas que se tornam incipientes, resultando da falta de organização europeia
juntamente com a perspicácia da Daesh.
Muitos apontam os refugiados
como causa para o flagelo que é o terrorismo. Parece-me injusto que se
generalize. Nem todos os
refugiados vêm para os países europeus para causarem conflitos e/ou para
“nos obrigarem” a mudar os nossos valores e tradições. Muitos apenas procuram
uma melhor vida. Não é de todo correto culparmos pessoas que estão a tentar
alcançar melhores condições de vida. Indivíduos que na maior parte das vezes
não tem culpa de onde têm vivido.
No entanto, com esta
solidariedade estamos mais sujeitos a que indivíduos perigosíssimos, entrem
quase livremente cá. Eles planeiam meticulosamente e nós apenas nos organizamos
melhor quando os atentados já aconteceram. Pensamos sempre que tudo vai
acalmar, que vamos viver melhor. Estamos apenas a tentar sentir-mo-nos mais
seguros, tentando esquecer a gravidade destas situações. Ignorando aquilo que nos aflige.
Neste sentido, o contexto em que
os crimes ocorreram diverge em duas teses, nenhuma delas, favorável à construção
de uma Europa multicultural. A mais radical é fortemente islamofóbica e
anti-imigrante. Defende que os inimigos da nossa civilização estão entre nós,
odeiam-nos e, por isso, só se resolve o problema se nos virmos livres deles. A
outra tese é da tolerância. Segundo alguns, estas populações são muito
distintas de nós, são quase como um fardo, mas temos de as “aguentar” até
porque nos são úteis, No entanto, só o devemos fazer se elas forem moderadas e
assimilarem os nossos valores.
Mas quais são afinal os “valores ocidentais”?
Depois de muitos séculos de atrocidades cometidas em nome deles dentro e fora
da Europa – Inquisição, violência colonial, guerras mundiais, etc. – exige-se
algum cuidado/atenção e muita reflexão sobre o que são esses valores e, por que
razão, dependendo dos contextos, ora se afirmam uns, ora se afirmam outros.
Assim, agora é necessário
reformular as políticas europeias em relação a este assunto, que não têm funcionado muito
bem. Pelo menos, mais países unidos, por um mesmo fim, ajuda a combater a
ferocidade do Estado Islâmico, que tem cada vez mais amedrontado os ocidentais
que não sabem muito bem como reagir. É necessário uniformidade, isto é,
trabalharmos como um todo, promovendo a justiça e o bem-estar social!
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